Dois levantamentos obtidos pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelam uma contradição preocupante: enquanto 40% das cidades do Rio Grande do Sul enfrentam falta de vacinas, o Estado já descartou R$ 32 milhões em imunizantes vencidos nos últimos três anos e nove meses. Somente em 2023, foram R$ 7,8 milhões em doses perdidas, totalizando quase 220 mil unidades de vacina contra a covid.
A pesquisa, conduzida pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), aponta que, dos 390 municípios gaúchos analisados, 156 registram falta de vacinas. Em 101 cidades, não há doses de imunizantes contra a covid para crianças; em 85, faltam vacinas para adultos. Além disso, 55 municípios não têm estoque de vacina contra varicela, enquanto outros 45 estão sem DTP, que protege contra tétano, difteria e coqueluche.
— Nós não estamos aqui interessados em jogar culpa. O que constatamos é a falta de vacinas, e a população precisa saber disso. A transparência é essencial — afirmou Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.
Paralelamente, dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação mostram que, desde janeiro de 2021, mais de 1,5 milhão de doses de imunizantes foram descartadas no Estado. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) justifica o desperdício com a proximidade do vencimento de lotes enviados pelo Ministério da Saúde e a obsolescência de vacinas diante do surgimento de novas cepas do coronavírus.
Tatiana Castilhos, responsável pela Central de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos da SES, aponta a desinformação como uma das causas da baixa procura por vacinas.
— Percebemos que antes havia mais segurança em buscar imunização. A desinformação tem prejudicado a vacinação, mesmo com trabalhadores capacitados e insumos disponíveis — lamenta Tatiana.
Essa baixa adesão já traz reflexos diretos. Postos de saúde em Porto Alegre relatam aumento expressivo nos casos de coqueluche, com 164 registros no Estado só em 2023.
— A cobertura da DTP está em 78%, quando o ideal é 95%. Isso já resultou em um aumento de 600% nas internações por coqueluche. As consequências estão acontecendo agora — alerta Eveline Rodrigues, diretora adjunta da Atenção Primária de Porto Alegre.
Enquanto vacinas vão para o lixo, cresce a preocupação com o retorno de doenças evitáveis. Especialistas reforçam a necessidade de campanhas de conscientização e estratégias para reverter a baixa cobertura vacinal antes que o cenário se agrave ainda mais.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte e foto: GZH
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